No âmbito das comemorações dos 500 anos do concelho do Nordeste, a freguesia de São Pedro do Nordestinho reaviva a cultura do trigo, fazendo memória à tradição desta cultura naquela freguesia, entretanto há 40 anos extinta.
A iniciativa partiu da Junta de Freguesia de São Pedro do Nordestinho, que a inclui no programa de comemoração do aniversário do município a decorrer ao longo deste ano.
Para que as várias etapas da produção sejam acompanhadas pelos locais e visitantes, a junta de freguesia escolheu um terreno junto à Estrada Regional, ao lado da Escola Profissional do Nordeste, também com o objetivo de despoletar o interesse das escolas pela atividade, levando-as a visitar o local.
Neste mesmo local e nos terrenos ali à volta, fez-se no passado muita produção de trigo na freguesia, um pouco à semelhança do que aconteceu por todo o Nordeste, tendo a significativa cultura deste cereal levado à criação de um celeiro em São Pedro do Nordestinho, hoje edifício da Escola Profissional do Nordeste, adaptado às necessidades da escola mas sem perder a arquitetura, as divisões e as características associadas às antigas funções da construção.
O celeiro de São Pedro era composto por dois armazéns, que recolhiam a produção do concelho para ser posteriormente encaminhada para Ponta Delgada.
Voltando ao processo do cultivo, a semente do trigo foi lançada nos primeiros dias do mês de março, no final da semana passada, decorrendo agora um prazo de 12 a 15 dias para a germinação.
A preocupação do momento passa por vigiar a caça da “praga” à semente, sendo comum no passado as crianças fazerem a vigia, ou mesmo uma pessoa da freguesia que nesta tarefa ganhava a sua jorna. Um dos instrumentos para a espantar a praga era a “matraca”, uma cana aberta ao meio que ao ser friccionada provoca algum ruído. Exemplo da “matraca” pode ser visto na fotografia abaixo.
Para a preparação do cultivo, a terra foi lavrada (agora com a ajuda da máquina mas no passado feito com o “arado”), seguindo-se o lançamento da semente, levado a cabo por uma pessoa de mais idade da freguesia, com experiência nesta cultura, pois o lançamento do grão à terra exige alguma mestria para que a produção seja farta.
Depois de lançada a semente, esta é tapada com terra, através de corredores contíguos feitos na terra pelo “arado” à antiga, orientado pelo agricultor e movimentado pela força do cavalo.
Para este processo, a junta de freguesia usou um dos “arados” mais antigos de São Pedro do Nordestinho, fazendo uso também da “grade”, último instrumento usado no cultivo e que tem a função de aplanar a terra.
A partir de São João, em junho, inicia-se a fase decrescente para o corte do trigo, fazendo-se a ceifa ao longo do mês quente de julho.
O corte tradicional do trigo, se bem que nos últimos anos da produção substituída por máquinas, era feito manualmente, com a ajuda da “foice”.
Nesta reprodução da cultura do trigo em São Pedro do Nordestinho o corte será tradicional, feito lá para meados de julho, pretendendo-se conciliar a ceifa com uma representação o mais fiel possível desta prática, fazendo uso da indumentária da altura, lembrando as cantorias e brincadeiras associadas assim como o repasto, disse José Miguel Mendonça, presidente da Junta de Freguesia de São Pedro do Nordestinho.