Na sua génese as ilhas vulcânicas encontram-se desprovidas de solo ou qualquer atividade biológica. No início tudo era nada.
Ao processo ordenado de substituição gradual de comunidades naturais por outras cada vez mais complexas, numa determinada área, até se atingir uma comunidade duradoura e em equilíbrio com o meio ambiente, dá-se o nome de Sucessão Ecológica.
Uma Sucessão Ecológica é apelidada de sucessão primária quando é iniciada numa área sem a presença de quaisquer seres vivos. Designa-se de sucessão secundária quando esta representa a recuperação de uma comunidade madura após perturbações causadas pelo Homem ou pela Natureza, como é exemplo um derramamento lávico numa área já ocupada biologicamente, sendo de tal exemplo os “Mistérios”.
Nas ilhas vulcânicas a sucessão primária inicia-se com a desintegração da rocha-mãe pelos agentes atmosféricos. Espécies designadas de pioneiras, principalmente líquenes (associação mutualista entre algas e fungos), muito tolerantes ao stress hídrico, térmico e de nutrientes, começam a “colonização” das rochas nuas. A conquista do nada.
Os líquenes elaboram ácidos que atacam as rochas e favorecem a penetração dos seus rizoides e hifas, contribuindo assim para a abertura de microfendas, que vão progressivamente aumentando e sendo preenchidas por material geológico fino meteorizado e erodido, bem como por produtos resultantes da decomposição dos próprios líquenes. Os seres vivos da comunidade pioneira vão mudando gradualmente as condições do meio, com a formação de solo e de disponibilização de nutrientes, o que permite que outras espécies se fixem, substituindo-se progressivamente as pioneiras por espécies mais complexas. Instalam-se musgos que dão lugar a fetos e progressivamente às plantas superiores.
A sucessão primária ocorre de uma forma lenta e gradual culminando no desenvolvimento de um ecossistema clímax. Os parâmetros pedológicos são reflexo do estado sucessional, sendo que quanto menor for o desenvolvimento do solo (espessura, nutrientes, matéria orgânica, mineralização e fertilidade) e da vegetação, menor é a biodiversidade presente e mais num estado inicial da sucessão nos encontramos. Da família das ericáceas, a Urze (Erica azorica) e a Rapa (Calluna vulgaris) são das principais e mais importantes espécies vasculares pioneiras nos Açores.
Uma comunidade climax é composta por populações de espécies que não se alteram, nem alteram o meio, estando portanto em equilíbrio dinâmico com o ambiente, admitindo-se, no entanto, a existência de diferentes comunidades climáxicas para cada ambiente físico de uma região, as quais estão em equilíbrio com os habitats, microclimas e solos. Gaspar Frutuoso (1522-1591), em “Saudades da Terra”, recorda que os descobridores dos Açores depararam-se com “rochas e terras, altas todas cobertas de alto e espesso arvoredo”.
Apenas compreendendo os mecanismos de uma Sucessão Ecológica é possível criar bases para uma gestão e conservação ambientais adequadas, mitigando, assim, os impactes negativos causados pelo Homem nos ecossistemas. Tanto mais verdade quando se trata de locais ecologicamente sensíveis, designadamente ilhas, como os Açores.