Texto integral do discurso proferido ontem pelo presidente do Governo Regional dos Açores, Carlos César, na cerimónia que assinalou a chegada do primeiro voo da TAP entre Lisboa e o Aeroporto da Ilha do Pico:
“Hoje é um dia grande para a ilha do Pico. Também para os Açores. Passados que são cerca de 23 anos após a inauguração do então aeródromo, que ocorreu a 25 de Abril de 1982, uma nova janela de oportunidades fica aberta nesta ilha, sugerindo novos voos para o progresso económico e social do Pico.
Este Aeroporto, cuja pista foi ampliada e certificada pelo INAC, ainda em 2004, vê, hoje, finalmente, em desenvolvimento o novo modelo de transporte aéreo definido pelo Governo Regional dos Açores. Não foi fácil chegar até aqui. Havia quem afirmasse que o piso da pista do antigo Aeródromo do Pico não tinha a compactação suficiente para aterrar aviões de maior dimensão; havia quem argumentasse que esta “gateway” não se justificava por não ter viabilidade económica; enfim, havia quem não quisesse, por razões que ainda hoje desconheço! Não foi fácil fazer vencer a nossa posição – acreditem…
Se hoje é possível vermos o avião da TAP nesta ilha é porque o Governo foi determinado nos seus propósitos: o modelo de desenvolvimento que adoptámos para os Açores implica um claro empenhamento no crescimento integrado de todas as nossas ilhas, e, esse empenhamento não foi nem é revogável por quaisquer considerações marginais aos esforços de concretização do interesse regional: “Conseguimos!”, como, felizmente, muitas vezes, costumo dizer.
Para quem não vive na Região, é, por vezes, difícil entender a razão pela qual os Açorianos, desde o início do seu regime autonómico, lutaram para criar as condições para que os bens e serviços essenciais custassem sensivelmente o mesmo em todas as ilhas do arquipélago. Não o fazemos por uma obsessão reguladora conceptualmente desactualizada e artificializadora. Fazemo-lo, porque, numa dimensão nacional e regional solidária, importa ajudar a suprir obstáculos potencialmente permanentes que impedem a concretização de níveis de acesso ao bem-estar e à competitividade económica dos nossos espaços territoriais. É assim que, certamente ainda por um período de tempo consolidado, temos que encarar o serviço público de transporte aéreo de e para os Açores, incluindo, agora, as ilhas do Pico e de Santa Maria.
A abertura das “gateways” do Pico e de Santa Maria é um passo importante para que, nestas duas Ilhas, o sector turístico tenha um forte impulso e uma tendência multipolar. É evidente que os resultados nunca são imediatos - veja-se o que ocorreu com o Faial, cujo Aeroporto, só em Julho de 1985, ou seja há vinte anos atrás, se abriu ao exterior, começando, também, inicialmente por uma ligação semanal a Lisboa, via Terceira, tal como acontece hoje com o Pico; no Verão passado, a TAP fez duas ligações diárias a partir do Faial para Lisboa. Hoje, seria impensável que a “gateway” da Horta não existisse.
O investimento envolvido nas diversas obras do Aeroporto do Pico, já construídas ou em fase final de conclusão, ronda os 26 milhões de euros e foram projectados para permitir um acréscimo progressivo das capacidades de utilização. Nestas obras, estão incluídas a ampliação da pista do aeroporto, já concluída, o aumento da placa de estacionamento das aeronaves e a sinalização luminosa e a construção da nova aerogare (que ficará com uma área útil aproximada de seis mil metros quadrados), da torre de controle, das diversas infra-estruturas e equipamentos ligados aos bombeiros, do parque de estacionamento de viaturas, das vias de acesso rodoviário, da aquisição de mobiliário e de terrenos e da instalação de ILS – Sistema de Aterragem por Instrumentos, cujo programa preliminar já está concluído. Já estabelecemos, também, conversações com as petrolíferas, para que neste Aeroporto seja disponibilizado combustível para o reabastecimento dos aviões.
Na generalidade, o sector do transporte aéreo e das suas infra-estruturas continuará, na legislatura iniciada há cinco meses, a merecer uma atenção muito especial do Governo Regional. Por exemplo, sabemos que os aeroportos nos Açores têm limitações devido à orografia das ilhas e à falta de alternativas melhores para a sua localização, mas temos que continuar a melhorar aquilo que temos. Encontram-se, por isso, neste momento, em fase final de construção, as aerogares de São Jorge, das Flores e das Lajes na Terceira, cujo investimento previsto ronda os 24 milhões de euros. Foi já adjudicado o estudo da melhoria da operacionalidade do Aeródromo de São Jorge.
Tendo em atenção a presença do senhor secretário de Estados das Obras Públicas nesta cerimónia inaugural – que muito agradeço – gostaria também de relembrar alguns compromissos já assumidos, mas não cumpridos, pelos últimos governos da República, designadamente em relação às diversas infra-estruturas aeroportuárias dependentes da ANA – Aeroportos de Portugal, SA. Relembro: a ampliação da pista do aeroporto da Horta, em mais 500 metros, e a ampliação da aerogare e da placa de estacionamento no Aeroporto de Ponta Delgada. Relembro, também, a instalação de um radar que permita ter nos Açores mais um instrumento, de grande importância, de ajuda à navegação aérea comercial, equipamento cujo projecto e instalação está a cargo da NAV Portugal. Para além dos estudos e das promessas feitas, há, agora, que encontrar forma de honrar esses compromissos. São, aliás, investimentos de pequena monta, sobretudo se comparados com os realizados, recentemente, nos aeroportos do Funchal, de Sá Carneiro ou de Faro, por estas mesmas empresas.
Pelo seu lado, a SATA - AIR AÇORES está, neste momento, a repensar a sua frota. Vai fazê-lo numa situação internacional e regional completamente diferente da existente no final da década de 80, quando procedeu à última renovação. Os Açores estão, hoje, felizmente muito diferentes e o desenvolvimento turístico é já uma realidade. É, pois, natural que, no âmbito do grupo interno de reflexão que ponderará o assunto, vigore uma orientação de compatibilidade das características da frota com o serviço público a prestar e com a melhor forma de fazer chegar a todas as ilhas os fluxos turísticos que, neste momento, apenas chegam com maior fluidez a algumas. O Governo acompanhará, atentamente, essa reflexão e as opções subsequentes, assegurando o financiamento desse projecto logo no início do próximo período de programação financeira da União Europeia.
A existência desta nova “gateway” para o Pico, explorada em regime de code-share entre a TAP e a SATA, já significou um forte estímulo ao desenvolvimento local e um encorajador impulso nos projectos de investimento turístico. Neste último período, verificou-se um significativo acréscimo de candidaturas de iniciativas empresariais aos diversos sistemas de incentivos às actividades económicas, as quais, sem mencionar as relativas ao sector primário, já ascenderam a um valor de investimento superior a 13 milhões de euros, o que constitui, à escala da economia instalada da ilha, uma tendência ascensional muito meritória e prometedora.
Quem tem, ainda, na memória o isolamento que esta ilha sofria há apenas algumas décadas atrás, certamente reconhece a importância do dia de hoje. O Pico deu um enorme passo em frente, cujas consequências serão, naturalmente, mais visíveis a médio e a longo prazo.
Vamos todos trabalhar para consolidar e retirar vantagens deste avanço, de forma a garantirmos o sucesso e a ampliação do caminho agora iniciado.
Parabéns ao Pico.”