Intervenção do Secretário Regional Adjunto da Presidência para os Assuntos Parlamentares
Texto integral da intervenção do Secretário Regional Adjunto da Presidência para os Assuntos Parlamentares, Berto Messias, proferida hoje na Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores, na Horta, na sessão evocativa a Mário Soares:
“Um homem como Mário Soares não morre. Um homem como Mário Soares construiu um legado que nos motiva e inspira perpetuamente.
Um legado de liberdade e tolerância, onde a divergência e a diferença engrandecem e valorizam as instituições democráticas e a sociedade contemporânea. Um legado de coragem onde, numa luta profundamente desigual de David contra Golias, nunca se vergou, nunca se acobardou, nunca desanimou e foi mesmo, nos momentos mais difíceis, um referencial de esperança e de luz para os desanimados e conformados com a escuridão da ditadura.
O legado da resistência e da persistência, da luta permanente e incessante pela liberdade e pela democracia. A luta de uma vida que conseguiu ganhar.
Portugal deve muito a Mário Soares, todos os portugueses, socialistas e não socialistas, democratas e saudosistas da 'velha senhora', todos devem muito a Mário Soares.
É injusto dizer ou afirmar que a Liberdade e a Democracia em Portugal se devem apenas à ação de Mário Soares; devem-se à ação de muitos. Mas é inquestionável o papel de Soares na liderança à oposição à ditadura pidesca de Salazar e de Marcelo Caetano.
Deve-se também a Soares o papel de moderação e de consolidação da nossa Democracia na transição do pós 25 de Abril de 1974, tendo um papel fundamental em evitar a deriva comunista que na altura seria nefasta para o futuro do nosso país.
Nesta evocação no Parlamento dos Açores também é justo relembrar que é sob a liderança de Mário Soares que o Partido Socialista, então maioritário na Assembleia Constituinte, aprova na Constituição o atual modelo de descentralização política, com as Autonomias Regionais, tão importante para os Açores e tão importante para os Açorianos.
O exemplo de vida de Mário Soares inspira-nos. Alguém que nem sempre foi consensual, amado por muitos, odiado por alguns, mas respeitado e considerado por todos. Alguém que nunca se calou, mesmo quando as circunstâncias ou as conveniências da altura assim o aconselhavam. Alguém que nunca recuou. Mário Soares não impunha a paz dos vencedores, construía sempre a paz com os vencidos.
O extraordinário sociólogo Max Weber escreveu que são necessárias três condições essenciais para uma verdadeira vocação política: paixão, sentido de responsabilidade e capacidade de avaliação. Mário Soares tinha as três de sobra. E, pela sua vida, pelo seu exemplo, pela sua luta permanente, Mário Soares é a mais importante e a mais destacada personalidade portuguesa do século XX.
Como disse Eduardo Ferro Rodrigues nas cerimónias fúnebres de Mário Soares, “Mário Soares não foi apenas o militante número um do Partido Socialista, foi o militante número um da Democracia Portuguesa".
É por isso que, nesta sessão evocativa, em nome do Governo dos Açores, enviamos as mais sentidas condolências à família, à Isabel e ao João, com a certeza de que, com a morte de Mário Soares, Portugal perdeu um dos seus maiores. Mas volto a dizer, um homem como Mário Soares não morre.
Viva a Liberdade, viva a Democracia, viva Mário Soares”.