Golfinho com sinais de intervenção humana
Na semana que agora termina foram registados dois fenómenos raros no mar da Ilha Graciosa. No dia 27 de Dezembro foi detectada a ocorrência de um golfinho na Pesqueira, em Santa Cruz. O animal, cuja espécie já não foi possível identificar, tinha cerca de 180 centímetros de comprimento e encontrava-se em avançado estado de decomposição. O Parque Natural de Ilha contou com a colaboração da Polícia Marítima, que vedou a área para assegurar a saúde pública, e da Câmara Municipal, que forneceu recursos materiais e humanos para a resolução do arrojamento.
Embora o arrojamento de cetáceos seja um fenómeno frequente no arquipélago, normalmente associado a causas naturais, neste caso foi detectada a intervenção humana: cortes bem visíveis no corpo do animal e remoção de tecido dorsal. Sendo este um acto ilegal, este registo foi de imediato transmitido à Inspecção Regional do Ambiente. Embora não seja possível averiguar se o manuseamento do animal se deu antes ou depois da morte e arrojamento, é de frisar que todos os cetáceos que ocorrem nos Açores se encontram protegidos ao abrigo de diversos instrumentos legais, entre os quais a Convenção de Berna. Assim sendo, o manuseamento destes animais, com ou sem vida, carece de autorização específica a requerer à Secretaria Regional do Ambiente e do Mar. As regras impostas em termos de manuseamento de animais selvagens na Região têm em vista a conservação das espécies, ao mesmo tempo que salvaguardam a saúde pública.
Foca avistada no dia de Natal
Mais agradável, em pleno dia de Natal, uma foca surpreendeu os Graciosenses que passaram durante a tarde nas piscinas do Carapacho. Foi possível contemplá-la por apenas alguns momentos, pois quando a Polícia Marítima chegou ao local, já a foca tinha seguido viagem. O registo desta ocorrência em particular fica assim por completar, não tendo sido possível retirar muita informação útil para fins científicos.
Há já vários séculos que o avistamento de focas no arquipélago é pouco comum. De facto, o único registo histórico de pinípedes residentes nas ilhas açorianas, feito pelo Padre Gaspar Frutuoso, era referente a avistamentos de colónias de foca-monge (Monachus monachus) em vários pontos da costa da ilha de Santa Maria.
Especialmente desde a criação da Rede de Arrojamentos de Cetáceos dos Açores que o registo de pinípedes tem sido efetuado com maior rigor na Região. Desde 2002, foram avistados uma dezena de pinípedes de diferentes espécies, espalhados por todo o arquipélago. Estas ocorrências são geralmente atribuídas a "acidentes de percurso", como desvios forçados por correntes ou mau tempo. Em Portugal conhece-se apenas uma população de 24 focas (M. monachus) que reside nas Ilhas Desertas, no arquipélago da Madeira.
Sobre estes casos, o Director Regional dos Assuntos do Mar, Frederico Cardigos, adianta "que é uma má e uma boa notícia. Não é agradável quando um cetáceo dá à costa, mas é especialmente triste quando se verifica que o mesmo foi alvo de um acto ilegal. Por outro lado, a presença de uma foca nas termas do Carapacho vem, mais uma vez reforçar o indício que as colónias do Norte da Europa e da Madeira estão em recuperação, já que com populações robustas é muito mais provável que estas ocorram nos Açores. Quem sabe, um dia, seja possível voltar a ter focas residentes nos Açores..."
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